“No 3º ciclo os alunos já vêm com muitos vícios e é muito difícil definir regras com eles. É inútil. Não funciona.” Foi assim que uma professora justificou a ausência de um momento para definir as regras de funcionamento na sala a partir do 3º ciclo.Mas porque é que não funciona? Porque é que até ao 6º ano todos copiam as regras definidas logo no primeiro dia para o seu caderno? Porque é que muitos até lhes dão destaque com cores diferentes ou com desenhos? Porque é que então um ano depois – no 7º ano – já não funciona, já não resulta?
Um estudo realizado com alunos entre os 7 e os 21 anos revela que é precisamente entre os 12/13 anos que se percebem maiores níveis de conformidade . Ou seja, seria então de esperar que a partir do 7º ano a adesão e conformidade às regras fosse maior e não menor.
Por outro lado, esta é também uma etapa do desenvolvimento fortemente marcada pela formação da identidade. A resposta à questão “quem sou eu” envolve a criação de um sentido de unicidade, sentido pelo próprio e reconhecido pelos outros. Ou seja, a necessidade de encontrar um espaço único justifica a quebra das regras … só porque sim!
E é esta volatilidade que precisamente observamos em muitas salas de aula – um aluno que “decide” quebrar uma regra (para experimentar, ou por mera distracção) e a repetição deste comportamento pelos colegas.
Então e se não chamássemos regras às regras. E se substituíssemos por “expectativas”, ou “compromissos”, ou “esta turma é espectacular porque …”, ou “o que eu mais gosto que aconteça nesta turma/disciplina é …”
Então poderíamos começar o ano ou o período com um pedido diferente.
“Parabéns por terem trabalhado e conseguido chegar ao 7º ano. Este ano já não vamos escrever as regras da sala. Já são todos uns crescidos e já não precisam disso. Este ano cada um vai responder a esta questão (pode ser apenas uma):As minhas expectativas para esta turma (ou disciplina) são…Nesta disciplina eu comprometo-me a ….Eu acho que esta turma é espectacular porque …
O professor pode começar por dar o exemplo de algumas respostas esperadas. Por exemplo: A minha expectativa é que eu consiga chegar à sala com vontade de aprender”, ou “ Nesta disciplina eu comprometo-me a estar preparado para trabalhar 5 minutos depois do toque”, ou “Eu acho que esta turma é espectacular porque ajudamos aqueles que têm mais dificuldades”.
Apontar no quadro todas as respostas dadas por cada um dos alunos (é importante que cada aluno possa dar pelo menos uma). Se surgirem respostas “disparatadas”, estas podem também ser apontadas. No final, de toda a lista escolhem as 4 ou 5 mais importantes. E aí têm as regras da sala, mas sem nunca lhe chamarem regras.
O próximo ano é já daqui a nada.
Experimentem e digam-nos como correu.
Olá Isabel, gostei muitíssimo deste post sobre regras sala de aula e acho que me vai ser útil. Este ano já notei essa " mudança com uma turma de 6 ano, com idades nos 11... os alunos do 5 ano são mais dóceis e em relação as "regras" mais cumpridores. Vou tentar as expetativas. Muito obrigada. Fico sempre feliz quando recebo e leio as newsletters. Pena que esteja tão cheia de trabalho. Acho que a lufada de ar fresco que recebemos nas formações são o nosso oxigênio para poder continuar a gostar e inovar no ensino. BEIJINHO OBRIGADA abraço Fernanda Duarte