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Castanhas assadas na praia.

Domingo. Praia do Sr. Da Pedra em Vila Nova de Gaia. Final da manhã. 28°

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Domingo. Outubro. As primeiras castanhas assadas. Passeio à beira-mar.



Estas duas linhas parecem o início de duas histórias diferentes.


A primeira, seria uma história de Verão, com sabor a praia e a mar. A promessa de férias e descanso. De esplanadas ao final da tarde, sem horários. De rotinas cronometradas. De gelados e bronzeados e que se lixe a dieta que no Verão os vestidos e os calções são largos.


A segunda, traria o cheiro do outono e da terra molhada pela chuva, envolvido no fumo das castanhas assadas. O regresso aos horários, e às tarefas e ao “não há tempo para nada”. E a roupa que não seca e o chão todo “patanhado” e o “porque é que não limpam os pés??!!” Dos livros e cadernos novos e da roupa que já não serve e só aí é que percebemos que cresceram.


Hoje, é 8 de outubro de 2023. Estas duas linhas são da mesma história. Hoje fui à praia e a água do mar não me congelou os pés e vim embora porque já não aguentava o calor. E à saída encontrei um vendedor de castanhas assadas.


Lembrei-me da ideia de “dissonância cognitiva” proposta por Leon Festinger em 1957 que diz que duas ideias contraditórias dificilmente coabitam durante muito tempo pois provocam tensão psicológica. Para resolver essa tensão, teremos tendência a diminuir o valor de uma das ideias, por exemplo, ou então a forçar a consistência da outra.

Neste caso poderíamos dizer – “Que outono excecional! Nunca se viu nada assim e que maravilha podermos ir à praia em outubro!”

Ou então – “Que sítio e hora esquisita que este vendedor de castanhas escolheu. Onde é que já se viu vender castanhas com este tempo, e na praia!!”


Podíamos. Qualquer uma delas.

Ou então podíamos parar um pouco e finalmente aceitar o absurdo das temperaturas como o resultado das pequenas decisões que tomamos todos os dias.

E mudar algumas delas.

E cuidar mais do que é vivo e consumir menos o que é produzido. Por exemplo.


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