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Onde está o interruptor!!??


Nove meses de inverno e três de inferno.” É o que se diz de Trás-os-Montes, sobretudo da Terra Quente onde nasci e vivi até aos 18 anos.

Habituei-me à mudança rápida das estações. Às vezes, o setembro arrastava-se em finais de tarde amenos e manhãs frescas. Mas a Primavera era traiçoeira, com tardes quentes de sol e noites de geada. Habituei-me a dias gelados em que o nevoeiro denso escondia o sol durante dias. Habituei-me aos dias tórridos, insuportáveis no sol quente a partir das nove da manhã e sufocantes a partir das nove da noite. Nem uma brisa!


Quando me mudei para o Porto porque vim para a Faculdade, fui confrontada com um novo fenómeno do clima! A CHUVA!!! Claro que também chovia na minha cidade. Mas aqui eram dias inteiros de chuva. Dias inteiros de chuva que se repetiam. Lembro-me de um dia em particular em que olhava a chuva pela janela e em desespero reclamava: “Onde está a porcaria do interruptor para desligar esta porcaria!!??”.


Nesse primeiro Inverno estive sempre constipada. Não estava preparada para a chuva. A minha roupa era demasiado quente. Não tinha impermeáveis, nem calçado para a chuva. Chegava à Faculdade molhada por fora e transpirada por dentro. Sempre desconfortável. Sempre à espera que a chuva passasse e chegasse o frio. Com o frio eu sabia lidar! Para o frio eu tinha roupa. Meias, camisolas quentes, casacos duplos!


Demorou muito tempo para me habituar. Não me lembro quanto. Sei que hoje já estranho o frio, como aconteceu neste início de ano.

O que me lembro é de sentir que não era justo. Que não estava certo. Que um sítio com chuva e sem frio não era normal! Que não gostava do Porto. Que era muito cinzento. Que não se respirava ar fresco. Que este não era o meu lugar!


Sabemos das capacidades de adaptação dos humanos! A Ciência e a História explicam-nos que foi essa capacidade de adaptação que marcou a nossa evolução enquanto espécie. E a Psicologia ajuda-nos a compreender que quanto mais lenta e progressiva é essa adaptação mais facilmente ela se instala.


E foi assim que me adaptei. Lentamente. Fui comprando roupa mais leve, impermeáveis, guarda-chuvas. Fui percebendo e antecipando as mudanças do tempo. Descobri o conceito de me vestir à “cebola”. Em camadas.

Mas o que me ajudou mais nesta adaptação foi quando aceitei que esta era agora a minha cidade. A minha vida tinha mudado e eu tinha de mudar com ela.


Agora, com esta pandemia, voltei a passar algo semelhante. “Onde está a porcaria do interruptor para desligar esta porcaria!!???”


A nossa vida mudou e nós temos de mudar com ela.


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