Duas pessoas que se conhecem. Juntas. Sentadas. Deitadas. A caminhar. A viajar.
Espera-se que em algum momento falem uma com a outra.
Que haja algum tipo de conversa.
Tenho reparado e percebi que há (pelo menos) três tipos de conversa:
Um primeiro tipo acontece quando falamos de “cenas”, de minudências, ou, como dizia um professor da Faculdade, de “externalidades”.
Já lhe chamaram de “conversa da treta” eu chamo “converseta”.
Este tipo é o mais inofensivo. E é inofensivo porque estamos só a referir, nomear, indicar, assinalar o que notámos, reparámos ou demos conta fora de nós. Pode ser o tempo, alguma notícia da atualidade, da política, dos famosos. Pode até ser algo mais educativo, como uma descoberta, um facto histórico.
Mas só estamos a falar de “cenas”.
Um segundo tipo acontece quando falamos sobre o que essas “cenas” significam para nós. Como as vemos e percebemos e integramos nas nossas vidas. Esta é a conversa profunda, de intimidade, de amor.
Este tipo pode já não ser tão inofensivo. Porque nos implicamos e expomos e abrimos ao outro.
Um terceiro tipo acontece quando falamos sobre o que as “cenas” significam não para nós, mas o juízo que fazemos do outro. A maior parte das vezes esta é a conversa da indignação.
E já não é nada, mesmo nada inofensiva.
Tomando o exemplo do tempo poderia ser assim:
- Olá, bom dia. Que dia lindo hoje!
- Sim, hoje parece que já não vai chover.
- Olá, bom dia. Que lindo dia hoje!
- Sim. A mim também já me estava a fazer falta o sol. Nos dias de chuva fico sem vontade de fazer nada. Hoje já acordei e fiquei logo bem disposta.
- Olá, bom dia. Que lindo dia hoje!
- Lindo!? Isto não é tempo para maio! Nesta altura já devia estar mais calor. Não percebo como podes dizer isso! Ainda tenho que andar de botas! Não tem jeito nenhum!
Que tipo de conversa anda a acontecer à sua volta?
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