Imagine um mundo em que em vez de dizermos “a minha personalidade é assim ... ou assado”, dizíamos ... “a minha cor é ....” e, qual pantone usaríamos este critério cromático, não apenas para nos distinguirmos dos outros, mas também para nos identificarmos.
“Eu não sou vermelho! Eu sou azul!” Poderíamos então assegurar.
E até ir mais longe, e dizer "sou azul turquesa", ou "sou azul turquesa claro"... ou até usar mesmo o critério RGB e dizer “eu sou 8, 244, 173”.
Imensas vantagens! Conseguimos imaginar imensas vantagens. A clareza! A ausência de mal-entendidos, de situações de conflito, a ordem e organização!
Parece quase ideal, não é?
Hummm, só que não!
Há uns dias a falar sobre comunicação com um adolescente conversávamos sobre como é que ele lidava com situações em que outras pessoas tinham uma opinião diferente da dele. A certa altura ele confessava...
“Se eu disser tudo o que penso. Se eu fizer tudo o que me apetece. Serei um pouco egoísta e acabarei sozinho”
Começámos então a perceber que isso acontecia sobretudo em situações em que defender a sua posição implicaria algum mal-estar no outro, ou tensão, ou conflito.
Nessas situações ele preferia esquecer, ignorar e passar à frente.
“Para não me chatear", dizia.
Só que chateia! E muito. Tanto, que depois o trabalho é fazer com que chateie menos e para isso há que desenvolver estratégias para evitar a “chateação”.
- não falar do assunto
- não falar com a pessoa
E talvez mais perigoso ainda
- não falar de todo
Vamos então regressar a esse mundo onde somos cores. Sendo eu azul, (turquesa claro) o mais provável é que me sentisse mais confortável ao pé de outros azuis, (mais ainda dos turquesas claros). Identificação total.
E como seria com as restantes cores?
Pois foi por esse caminho que continuamos a conversa
E saiu assim...
E continuámos a conversar sobre o que pode acontecer quando decidimos “ignorar, esquecer, ou deixar de falar daquele assunto” só para não nos chatearmos...
Quando temos cores diferentes, o mais natural é que os nossos pensamentos sejam mais da nossa cor. E às vezes até parece óbvio pensar que outras cores não vão entender as nossas.
Mas, pensar cores diferentes não quer dizer que não as possamos mostrar aos outros. A maneira como o fazemos é que pode “chatear” mais ou menos, a mim ou ao outro.
1. Podemos falar sobre o nosso azul de uma maneira azul.
2. Podemos falar sobre o vermelho do outro de uma maneira azul.
3. Podemos falar sobre o nosso azul de uma maneira vermelha.
4. Podemos falar sobre o vermelho do outro de uma maneira vermelha.
Quais podem ser as consequências de cada um delas?
Havemos de falar mais sobre isso.
Entretanto podemos ficar a pensar nesta pergunta:
- O que acontecerá a mim e à minha relação com o vermelho se eu, azul-turquesa-claro, falar sempre de maneira vermelha sobre o vermelho?
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