- Só me apetece fazer Alt Tab.
- Como assim?
- Ao menos quando estava online fazia “Alt Tab” mudava de janela e pronto. Também devia haver um “Alt Tab” na Escola.
O Francisco é um rapaz de 12 anos, pequeno para a sua idade. Não gosta muito das coisas que os rapazes normalmente gostam. Como o futebol, por exemplo. E gosta de coisas que os rapazes da sua idade normalmente não gostam. Como ter conversas mais profundas, ou ler livros. Quando está aborrecido o Francisco pesquisa no ©Google compêndios sobre Física e sobre o Espaço.
Interagir com os outros da sua idade não é fácil. São demasiado subtis e complexas as negociações. Se está correto fala alto e não se ajusta. Mesmo quanto é para dizer - “isso está mal feito” ou “estás a fazer tudo mal”. Por outro lado, é quase impossível aceitar que a sua perspetiva possa não ser a melhor. É que ele já pensou em tudo antecipadamente e sabe o que está a dizer.
As relações não são fáceis para o Francisco. Aquilo que visualiza na sua cabeça muitas vezes não se concretiza. Fica frustrado, zangado com as injustiças de que é alvo. Os outros não compreendem.
Na escola online grande parte desta frustração foi dissolvida. Na sua secretária, muitas vezes ainda em pijama, sentava-se distraído em frente a um ecrã, sem se preocupar com as conversas do intervalo, com as reações aos seus comentários, com os olhares críticos e sarcásticos às suas perguntas nas aulas. Ali, à distância, estava protegido do atrito da proximidade com os outros.
Ali poderia sempre clicar “Alt Tab” e mudar de janela e ir para outro mundo onde as regras eram as suas e os confrontos apenas com a sua imaginação.
A frustração não é um sentimento agradável. Por isso é que o evitamos. Dah!!!
Por outro lado, frustração é também apenas um sinal que aponta para o que podemos fazer melhor, com mais cuidado. Para o que podemos estar mais atentos. Ou, no limite, um lembrete para as nossas limitações.
Assim, em vez de enfrentar a frustração que o poderia catapultar no seu desenvolvimento, na procura de formas alternativas de estar com os outros, o Francisco prefere refugiar-se num mundo onde pressionar o comando “Alt Tab” significa alívio e fantasia.
Hermético.
E mais pobre, portanto!
Fugir à realidade não é solução. Há que ensinar os "Franciscos" a lidar com os obstáculos que vão surgindo e ajudá-los a perceber que fazem parte do processo de crescimento e que vão sempre existir pela vida fora. Mas não é tarefa fácil!
O Francisco terá sempre um interlocutor! Só tem de se dar a conhecer. Fazer "alt tab" à vida é o mais fácil mas também o mais superficial. É preciso querermos ouvir os Franciscos.
Era bom poder adaptar a escola aos "Franciscos", mas estamos cada vez mais longe do bom caminho.
Hoje estou pessimista e cansada😘