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Camisolas de lã

Levante a mão se cresceu em Portugal nos anos 80.

Levante a mão se a sua mãe (tia, avó, prima, vizinha) lhe fazia camisolas de lã.

Levante a mão se essas camisolas eram de lã grossa e tinham muitas cores.

Levante a mão se algumas dessas camisolas eram muitas vezes tricotadas com a lã de outras que já tinham sido usadas por primos, irmãos mais velhos.

Se levantou a mão até aqui então vai entender melhor o que vem a seguir.



Nos anos 80, Portugal saía timidamente de um espaço pobre, fechado, escuro de mais de 40 anos. Tudo era escasso, menos o medo e a ingenuidade do que fazíamos.

Tudo era aproveitado e reaproveitado. As camisolas de lã são apenas um dos muitos exemplos disso mesmo.

Lembro-me de algumas que vestia no Inverno frio transmontano. De cores vivas e misturadas. E quando deixavam de servir eram desfiadas e tricotadas novamente. Mais cores. Mais misturas.


Construir uma relação é assim. Tricotar cores. Algumas mais vivas que outras. Com mais ou menos misturas e muitas vezes a reciclar a lã de outras camisolas... digo, relações.

Trazemos as lãs, mais ou menos fortes, mais ou menos gastas, e lá vamos tricotando as misturas.


Às vezes uma parte traz mais lã que a outra, ou traz mais cor, ou traz mais estilo. Bem tricotadas, e isso nem se nota. Mesmo que falhe um ponto, ou uma linha fique torta, não tem mal, dá-lhe estilo. Foi feita à mão!


E como as camisolas, às vezes as relações também deixam de servir.

Mas ao contrário das camisolas, são mais difíceis de desfiar e tricotar novamente.



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