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O que poderia ter sido



Refresh. Refresh. Refresh. Refresh ...


Neste fim-de-semana milhares de jovens estarão mais atentos ao seu e-mail. Possivelmente até mais do que todas as outras vezes combinados desde que o criaram, numa altura em que servia apenas para ter acesso a redes sociais ou qualquer outra aplicação.


Parabéns a todos os que receberem a notícia de terem conseguido o que queriam. O curso, a faculdade, a cidade que queriam. Parabéns pelo esforço, investimento e energia que colocaram em todos os passos que deram. Todos os testes, e as aulas e os exames e o estudo necessário. Parabéns, mesmo, porque o que conseguiram foi algo muito difícil.


E o que fazer quando o que receberem não é o exatamente que queriam? Mas antes a segunda, ou a terceira ... ou a última opção.

Como lidar com o desânimo, a tristeza, a frustração ou até a raiva por tanto que fizeram e ainda assim não ter sido suficiente?



O resultado não é objetivamente percebido

Não é nova a ideia de que aquilo que objetivamente conseguimos alcançar é muito menos importante do que a perceção subjetiva desse sucesso.

Hamlet já anunciava “There is nothing either good or bad, but thinking makes it so”. E a psicologia ajuda a explicar este fenómeno dando-lhe um nome pomposo de “pensamento contrafactual”, ou seja, a tendência para compararmos o nosso resultado com “o que poderia ter sido”.


E este “o que poderia ter sido” inclui a comparação com as nossas expectativas e com os resultados de outros e, se comparamos com os melhores, pode ser destruidor de todo o entusiasmo que seria de esperar neste momento.

Quanto mais próximo de ter conseguido, maior será a frustração e a sensação de fracasso. “Não consegui! E sou um fracasso”, pode ser o primeiro pensamento que se instala.



Esse primeiro pensamento é apenas isso. Um primeiro pensamento.

A cultura do “podia ser melhor” começa cedo na escola, no desporto, na música. Em praticamente todas as atividades que as crianças participam de forma estruturada. “Está bem, mas podia ser melhor” é um feedback comum de professores e treinadores que procuram a mestria de uma competência.

Então se podia ser melhor, porquê celebrar uma opção que não é a primeira?


Sheryl Sandberg (que curiosamente foi a número dois do, agora Meta, e antes Facebook) depois de perder o marido e amor da sua vida com 47 anos decidiu que poderia ajudar outras pessoas que, tal como ela, tiveram que viver com uma “Opção B”. E foi precisamente esse o título do livro que escreveu com Adam Grant. A ideia principal do livro? Falando abertamente do que estamos a sentir, usando autocompaixão e pedindo ajuda ou deixando os outros ajudar, podemos usar este (ou qualquer outro) momento de adversidade para crescer e construir resiliência.



Pessoal, pervasivo e permanente

Qualquer episódio de adversidade tende a ser percebido como pessoal, pervasivo e permanente. Pelo menos naquele momento, é difícil não pensar que não consegui porque não sou suficientemente boa, ou em tudo o que poderia ter feito diferente para não estar neste sítio de fracasso.

Este pensamento pode depois alastrar-se a tudo na minha vida. “Não sou nada de jeito, não faço nada de jeito, não valho nada”.

E finalmente, é inevitável sentir que essa sensação de derrota não vai passar. Nunca!



A melhor segunda opção

Como sair deste ciclo e ser mais produtivo e encorajador?


Talvez começar por – Neste momento é este o resultado que tens, então o que de melhor podes fazer com esta opção? Como torná-la a melhor “segunda” opção?

Até porque se foi a segunda opção, é porque desde o início já era uma opção possível, certo?


Depois, como acolher a ideia de que nem todos os pensamentos são verdadeiros e o que me fez de facto conseguir esta “segunda” opção?

Lembra-te do esforço e investimento que tiveste que fazer para chegar aqui.

Por exemplo, pensar num cenário pior pode trazer mais conforto e alívio do que pensar num cenário melhor. Porque, na verdade, pode ser sempre melhor.


E finalmente, como celebrar com entusiasmo e esperança este momento? Procura criar abertura para viver essa segunda opção e ficar disponível para conhecer pessoas, descobrir coisas sobre elas e sobre ti, aprender e voltar a celebrar.


Entrar na Faculdade significa conseguir algo que continua a ser difícil e tem que ser sempre um momento para celebrar! Com entusiasmo! Mesmo que não seja a primeira opção.


Parabéns! A todos!





Foto @isabellage.psi

"street art" Porto



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