Luísa, quarenta e poucos anos, médica toda a vida (mesmo ainda antes de o ser). Pensamento analítico, pragmático e ação proactiva e organizada. Passou toda a sua vida encontrar soluções, sempre a melhor solução. Às vezes até soluções para problemas que não existiam. Feliz num casamento com três filhos. Mas algures, como um qualquer caminhante, perdeu-se. Perdeu o caminho desenhado na montanha!
“Sinto-me perdida”, dizia-me numa voz com tonalidades de medo, frustração e vergonha.
Na verdade, seria igual se dissesse, “sinto-me estúpida”.
Perder-se, (ou estar perdido), ativa uma resposta de medo. Uma reação primitiva que paralisa. O comportamento pode torna-se errático, incerto e ansioso.
É perigoso. Muitas vezes, porque não paramos, ficamos ainda mais perdidos. Mais perigo.
Caminhantes experiente dizem que o mais acertado é ficar parado e acalmar. Ao diminuir a adrenalina no corpo, sentimos calma e com isso tranquilizamos a mente. E depois pensamos melhor e definimos um plano.
Estar perdida numa montanha pode colocar-nos de facto em perigo. Podemos mesmo morrer.
Mas o que Luísa estava a experimentar não era uma ameaça de morte. Era apenas uma ameaça à sua vida.
Então um dia experimentámos outro olhar. “Quais podem ser, afinal, as vantagens de estar perdida”?
Pode significar que arriscou. Algures saiu desse “sítio marcado na montanha” Consciente ou não, foi isso que aconteceu. Divergiu, divagou, explorou mais além.
Pode significar mais liberdade. Agora sem referências previamente marcadas, pode escolher. Porque não? Porque não eu? Porque não agora?
Pode significar que onde estava não era suficiente. E o corpo percebeu antes de tudo e todos e mexeu-se. E de repente estava longe (ainda que perdido).
Pode significar descoberta. Sobre si e sobre o mundo à volta. A exploração não tem que acabar porque nos tornamos adultos. Mães de 3 filhos.
E a Luísa parou. Ficou aflita. Escolheu outro caminho. Ficou afita de novo. E ainda assim, não voltou para onde estava antes.
Mesmo podendo e sabendo como.
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